
Venâncio Mondlane volta a ser ouvido pela PGR e alerta: "Podem prender-me, estou pronto"
Maputo, 27 de Junho de 2025 – O ex-candidato presidencial moçambicano Venâncio Mondlane foi novamente notificado pela Procuradoria da República na Cidade de Maputo para uma sessão de audição marcada para esta sexta-feira.
A notificação vem acompanhada de um aviso: em caso de não comparência, poderá incorrer numa multa de um a cinco salários mínimos, ou até mesmo ser detido.
A cidade prepara-se para fortes medidas de segurança, com previsões de bloqueios rodoviários devido à esperada concentração de apoiantes do político, considerado atualmente uma das figuras mais mediáticas da oposição em Moçambique.
Em entrevista exclusiva à revista Integrity, Mondlane afirmou estar preparado para qualquer desfecho, incluindo a prisão: “As tantas a próxima entrevista pode ser na B.O (brigada de homicídios), mas não tenho medo, estou pronto. Um ‘gajo’ que já morreu para o mundo, não tem mais nada a perder.”
O político criticou a conduta do primeiro interrogatório, onde alega ter sido ouvido durante 10 horas sem que lhe fosse comunicado qual o crime de que é acusado, o que, segundo ele, torna o processo nulo. Para Mondlane, esta nova convocatória serve para corrigir esse erro, embora tardiamente.
Segundo revelou, a sua defesa já requereu diligências formais para a audição de várias figuras, incluindo o ex-Comandante-Geral da Polícia, Bernardino Rafael, o presidente da Comissão Nacional de Eleições, Dom Carlos Matsinhe, e a presidente do Conselho Constitucional, Lúcia Ribeiro, além de vítimas dos episódios de violência ligados às eleições de 2023 e 2024.
“Eles não podem concluir a acusação sem ouvir essas pessoas. Está tudo documentado e assinado”, afirmou.
Esta audição acontece um dia depois da Procuradoria ouvir Manecas Daniel e Justino Mondlane, da Coligação Aliança Democrática (CAD), que denunciaram perseguição política por parte do regime e classificaram o momento atual como uma demonstração de que "a máscara do sistema caiu".
Críticos acusam a PGR de parcialidade e de ser instrumento de repressão contra opositores, ignorando alegados crimes cometidos por figuras próximas ao poder, nomeadamente membros da Comissão Nacional de Eleições, apesar de denúncias formalizadas pelo Conselho Constitucional.
A possibilidade de detenção de Mondlane levanta receios de uma nova vaga de protestos violentos e instabilidade política, podendo comprometer os esforços de reconciliação e paz num país ainda marcado pelos eventos turbulentos entre outubro de 2024 e abril de 2025.
Fonte: Integrity Moçambique, 27 de Junho de 2025.