
O Lenacapavir é um antirretroviral inovador, que se destaca por seu modo de administração: apenas duas injeções por ano são suficientes para manter a proteção contra o vírus, especialmente em pessoas com alto risco de contaminação. O medicamento já conta com a aprovação de agências reguladoras dos Estados Unidos, como a FDA, o que fortalece a confiança científica em seu uso.
Segundo Mbofana, a previsão é de que entre 30 a 40 mil moçambicanos sejam contemplados na fase inicial de implementação. Contudo, o que deveria ser comemorado como um avanço histórico na saúde pública levanta questionamentos importantes: o custo estimado por paciente gira entre 80 e 90 mil dólares anuais — um valor considerado exorbitante, sobretudo para um país que ainda enfrenta desafios estruturais no seu sistema de saúde. “Estamos a buscar parcerias e negociações para tornar o medicamento financeiramente viável para o nosso contexto”, afirmou Mbofana, sem detalhar de onde virão os recursos. Entre o progresso e o paradoxo Moçambique, que já fornece antirretrovirais gratuitos a cerca de 2 milhões de pessoas, tem sido elogiado internacionalmente por reduzir significativamente a transmissão vertical do HIV (de mãe para filho). A introdução do Lenacapavir pode representar uma evolução na adesão ao tratamento, especialmente entre jovens e populações vulneráveis que têm dificuldades com a medicação oral diária.
Por outro lado, especialistas em saúde pública alertam para a desigualdade no acesso ao medicamento, caso o preço não seja renegociado ou subsidiado por organismos internacionais. “Não podemos permitir que o Lenacapavir se torne privilégio de poucos num país onde muitos ainda lutam pelo mínimo em cuidados básicos de saúde”, comentou um ativista local, que preferiu não se identificar. A aposta no futuro Apesar das críticas, a medida do governo é vista como ambiciosa e estratégica. A parceria com organizações multilaterais pode abrir caminho para acordos que tornem o medicamento acessível ao maior número possível de moçambicanos. A expectativa é que, até 2026, o país também avance no fortalecimento da rede de distribuição e na formação de profissionais aptos a administrar o novo tratamento.
Moçambique se posiciona, assim, entre os primeiros países africanos a considerar o uso do Lenacapavir em larga escala — uma aposta ousada que, se bem executada, pode transformar o combate ao HIV na região. O desafio agora é garantir que a inovação não fique restrita às manchetes, mas chegue efetivamente a quem mais precisa.