
Justiça que chega tarde: Elvino Dias recebe Prémio Nelson Mandela após ser silenciado em Maputo
O advogado moçambicano Elvino Dias, brutalmente assassinado em outubro de 2024, foi agraciado com o Prémio Nelson Mandela 2025, atribuído pela organização internacional ProPública como reconhecimento póstumo pelo seu papel incansável na defesa dos direitos humanos e da democracia em Moçambique.
A distinção ocorre sete meses após a sua morte, num crime ainda sem explicações da parte das autoridades moçambicanas. Dias era, à data do assassinato, assessor jurídico do então candidato presidencial Venâncio Mondlane, e foi executado numa emboscada em plena Avenida Joaquim Chissano, em Maputo, numa ação que também vitimou Paulo Guambe, mandatário do partido PODEMOS.
Segundo o presidente da ProPública, Agostinho Pereira de Miranda, a escolha de Elvino visa "honrar um advogado que perdeu a vida no exercício das suas funções" e denunciar as condições "extremamente difíceis" enfrentadas por defensores dos direitos humanos em África.
O bastonário da Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM), Carlos Martins, destacou que Elvino Dias foi "um combatente pela democracia, pelo Estado de Direito, e pela Justiça". Sublinhou que o advogado deixou como herança "os valores da verdade, do direito e da justiça", que devem continuar a inspirar a classe.
A viúva, Esmeralda Sousa, expressou gratidão pelo reconhecimento, afirmando que a homenagem "traz algum consolo" diante da ausência de justiça. "Ainda não temos respostas, mas esperamos que este prémio ajude a acelerar o processo e a manter viva a memória daquilo que ele representava", disse.
O crime permanece sem qualquer avanço investigativo, alimentando suspeitas de motivação política e impunidade. A OAM já se constituiu como assistente no processo, que segue parado.
A entrega oficial do prémio, no valor de 10 mil euros, será feita à família de Elvino Dias no próximo dia 18 de julho, data que celebra o nascimento de Nelson Mandela. A homenagem pretende não apenas exaltar o legado de Dias, mas também lançar um apelo à proteção dos defensores da democracia em contextos autoritários.